quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

amendoim japonês

ela sentou-se robótica no ônibus vermelho. sentou-se próximo à porta número três, a porta pela qual as pessoas entram. gostava de observar as pessoas que entrava no ônibus vermelho. um velho senta-se ao seu lado, o cheiro forte de naftalina devia sua atenção, a mãe com a criança reclamando, a venha magra, a moça gorda, o senhor de terno e grava. ela sente vontade de espirar, mas a vontade passa. "que raiva, odeio perder espirro!"

dez anos desde a morte do pai, dez anos que vive apenas com a mãe, dez anos que seu dinheiro é contado, sua vida é regrada e nada pode ser esbanjado. dez anos que ela sonha. afinal, sonhar não paga imposto. dez anos que ela tem vontade.

ele entra, barba por fazer, mochila preta nas costas, casaco folgado, na mão um saco de amendoim japonês. os preferidos dela, os que há meses ela não come. a boca enche d'água ela deseja, ao menos, um amendoim, mas nunca teria coragem de pedir. olha fixamente para cada uma bolinha disoforme, marrom, texturizada. lembra do gosto do salgado à boca, lembra do som da casca grossa estrourando na boca. lembra... remexe no bolso, alguma moedas contadas. sente vontade de descer do ônibus e comprar um saco igual. odeia a vida que leva, odeia as limitações que vivi, odeia esse sentimento e querer e não poder, a vontade de comer e não poder. as vontades...

para sua perdição ele abre o pacote, o cheio intenso invade sua narinas, um oceano se forma na boca, o cheiro salgado a envolve. o som dos amendoins estourando na boca dele, tudo mais intenso do que deveria. ela fecha os olhos se vê num campo, céu claro sem nuvens, campo verde, em sua mão um saco de amendoin japonês, ela senta na grama macia e come despreocupadamente, um por um. o ronco do motor e ela é arrancada de seu devaneio. abri os olhos e mira ele mais uma vez, mastigando feliz, o saco cheio. ela promete a si mesma, um dia teria uma um casa, e nessa casa haveria uma banheira e um dia encheria essa banheira e tomaria banho de amendoim japonês.

21 comentários:

  1. E como é que foi de carnaval,lindão???

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  2. Porra, que bonito... foge um pouco dos humorados textos e por isso adorei mais ainda...

    beijos.

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  3. Eu odeio perder o espirro também...
    um banho de Amendoim japonês! Delicia!

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  4. amendoin japones e bom com cerveja gelada, nao no onibus. muito menos em uma banehira, haha.

    abraco ae jarbas

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  5. Adoraria um banho em uma banheira de amendoins japoneses. Gostei muito da história.
    Também sou de Curitiba e tenho o blog www.aiqueabsurdo.com
    Gostei muito das suas histórias e ri bastante de alguns detalhes, que só quem mora aqui sabe o que são.

    Abraços! ;)

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  6. Ja vi cena parecida.
    Mas o objeto de desejo era um picolé de fruta.

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  7. Eu adoro amedoim japonês...
    É uma delícia e eu entendo perfeitamente o que ela tava sentindo. Uma vez eu tava num ônibus e do lado de fora um camelô vendia "Batom Garoto", e eu escutava: "Compre batom, Compre Batom" na minha cabeça. Pena que meu bolso não estava a altura da minha vontade!

    Xero
    =D

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  8. Maravilhoso texto!
    Tem selo pra você lá no meu blog!!
    :D

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  9. Nossa, imagina a pele dela naquele monte de amendoim cheio de sal? vai dar merda! vai ter que tomar banho com dove o resto da vida!

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  10. heheheh xD

    eu tô assim...com carne,ovo,coca-cola e pepsi twister...me despero ao ver...mas tento passar longe,vai ser melhor para mim =/

    xêro!

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  11. rs...
    Fiquei com vontade de amendoim japonês agora!

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  12. oi Jarbas...faz tempo que não passo nos blogs e dando um sapeada aqui vi que vc está ganhando o mundo...fico feliz por vc...sabe que sempre achei que vc merece muito.

    abração...boa sorte.

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  13. Geralmente eu morro de rir aqui. Agora só não chorei pq to no trabalho.

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  14. Alucinante!!!
    Tem cara de reflexão profunda... daquelas que eu adoro.
    Cara de texto escrito pela gente, pros outros todos lerem e poucos entenderem de fato.
    Amei, escrevi sobre isso lá no meu!
    contradicaoecoerencia.blogspot.com
    Passa lá!
    Beijos

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  15. Isso é tão profundo, tão verdadeiro.
    Com tanta vida de verdade. Chega me emocionei.
    Uma das coisas que me faz te admirar muito, é como vc consegue abordar temas tão realistas com uma pseudo leveza, que parece uma brisa, aquela brisa quem vem logo após a tempestade.
    Muito bom Jarbas, acho que um dos melhores textos que já li seus.
    Parabens!!!

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