Não saberia dizer ao certo agora,
mas acredito que foi na sétima ou oitava série do Ensino Fundamental, ainda lá
em Tremedal, numa dessas manhãs quentes em que o telhado de Eternit do CET
(Centro Educacional de Tremedal) tornava a sala de aula uma verdadeira sauna;
lá o Profº. Marcolino durante uma aula de Geografia narrou que no Japão, quando
um aparelho eletrônico quebra, mesmo com possibilidade de recuperação, eles não
mandam para a assistência técnica, mas os descarta afim de comprar um novo;
nunca verifiquei se essa informação era verdadeira, porém me lembro de ter
achando a ideia um tanto absurda, ri da ignorância nipônica, depois desejei ser
algum tipo de imigrante/mendigo espertalhão que iria catar lixo eletrônico na
ilha japonesa para mandar para o Brasil e ficar rico (??) Ledo engano, Leda
Nagle.
"Melting Men" by Nele Azevedo. Berlin, 2009 |
Uma coisa é certa, nunca me
tornei um catador de lixo eletrônico no Japão, ou se quer pisei os pés lá, mas
daquele momento em diante entendi que descartar algo por estar com defeito, mas
com possibilidade de reparo, era um ato que vinha embutido com ignorância.
Desde então, recuperar, resgatar, reconquistar, restaurar se tornaram palavras
essenciais e parte de minha vida.
Obviamente que trocar um aparelho
é uma liberdade que todo consumidor possui e não há como discutir que é válido
esse direito; convivemos muito bem com a ideia de que os produtos surgem já com obsolescência programada, sabemos que comprar hoje o iPhone 6 Plus significa
que em meados de Setembro do próximo ano ele será descartado e substituído por
um modelo mais moderno, curvilíneo, com tela de retina 4K com mais definições
de pixel etc e tals. O (meu) incomodo surge, na verdade, quando transferimos
essa intenção de substituição para os seres humanos, o problema é acreditar que
durante o processo de construção de uma relação (seja ela romântica, parental
ou de amizade), caso surja uma imperfeição, seja por medo, incerteza ou insegurança o próximo passo a ser realizado é
substituir aquele individuou que aparentemente não se encaixa na sua
idealização ‘de bom funcionamento’. Esquecemos que seres humanos estão
suscetíveis a falhas, esquecemos que a perfeição é uma ideia vaga e utópica.
O sociólogo intelectual polonês,
Zygmunt Bauman afirmou: "Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar,
tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos
feito água.". Bauman foi tão brutalmente realista, que é impossível negar
que infelizmente boa parte da sociedade pós moderna (essa sociedade que você e
eu estamos inseridos) transferiu as conexões superficiais entre o ser humano e
objeto também para relações entre humanos com humanos. Sendo assim, se nada é
feito para durar, as conexões humanas (e o amor) são banalizados, os
relacionamentos não são feitos para permancer, por que caso aja alguma “falha
no sistema” o mais fácil é desconectar-se.
Mas há quem [eu] reme contra a
maré e se recusa a atualizar o sistema!
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