Marcha do Orgulho Crespo - São Paulo, 2015. |
Foi com tremendo estranhamento que na última terça-feira
(08/12/2015), após voltar da praia, dei uma breve passada no Farol da Barra com
um amigo e me deparei com um trio elétrico, no qual estavam o cantor baiano
Bell Marques, seus filhos (não saberia dizer os nomes) e a apresentadora Angélica
gravando o programa Estrelas da TV Globo.
Maior estranhando e desconforto me veio quando o senhor Bell
Marques disparou contra a multidão, ali em sua maioria afrodecendes — como
muitos bem sabem, Salvador é a cidade com maior número de negros(as),
fora da África, no mundo — os versos de sua aposta musical para o Carnaval
2016. Na canção, Bell insinua que o parceiro da "nega" só gosta dos
cabelos dela com chapinha, quimicamente tratados, enquadrados nos cruéis
padrões de beleza feminina, que vem aprisionando e diminuindo a real beleza das
mulheres afrodescendentes (ou não) há anos.
Ao cantar "ô
mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha. Ô tá liso, tá lisinho.
tá liso, tá lisinho", além de
boa oportunidade perdida para ficar calado, Bell, como artista popular, que
interpreta suas canções diante de multidões totalmente diversificada está sendo
excludente, e desrespeitoso com uma parcela enorme de seu publico que são as
mulheres (negras ou não) que possuem cabelos crespos ou encaracolados e os
preferem assim. Há que afirmar, que não, eles não gostam apenas do cabelo com
chapinha, senhor Bell Marques, na verdade, eles não tem que gostar de nada
nelas, pois são elas, as mulheres que tem (ou deveriam ter) total controle de
como querem manter seus cabelos, seu corpo, sua alma e sua dignidade.
Marcha do Orgulho Crespo - São Paulo, 2015. |
A música "Cabelo de Chapinha" causa tamanho
desconforto auditivo (e social) principalmente por ser interpretada por um
cantor que supostamente vive a realidade de seu público, realidade esta que não
esta sendo respeitada em nenhum dos versos da canção; Bell Marques é cidadão
soteropolitano, cidade conhecida como a Roma Negra, uma ode a seus +80% da
população de afrodescendentes (segundo informações do IBGE 2013), mas o cantor
falta com respeito a milhares de negras que enfrentam diariamente abusos devido
aos seus cabelos crespos ou ondulados; ou vocês acham que é fácil permanecer empregado
com um massivo black-power?! Não, não é! Não é fácil assumir os cabelos
afrodescendentes naturais, a luta por identidade é intensa todos os dias e como
artista popular, Bell Marques tem responsabilidade, sim, sobre a mensagem que
quer passar para seu publico e tantos outros que ouviram e irão decorar por
osmose (de tão respeitadas vezes que vão ouvir) o refrão desta péssima música.
A página Oficial de Bell Marques está deletando todos os
comentários que levantam a discussão sobre a temática da mensagem racista,
machista e exploradora dos padrões da beleza feminina; o meu comentário, que já
possuía +100 curtidas, foi um desses deletados e se eu insistir em colocar a
boca no trombone de novo logo serei bloqueado pela administração da página, não
querem admitir que a música é de mal gusto!
Mulheres, não se iludam, vocês são lindas com crespo, encaracolado (ou não). Chega da ditadura do liso! É hora de repudiar qualquer tentativa de padronização!
É hora do #OrgulhoCrespo!
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UPDATE: como eu havia previsto, fui bloqueado e meus comentarios apagados pela admin da página de Bell Marques no Facebook. Quem não tem argumento, sabe apenas ser repressor.