ela sentou-se robótica no ônibus vermelho. sentou-se próximo à porta número três, a porta pela qual as pessoas entram. gostava de observar as pessoas que entrava no ônibus vermelho. um velho senta-se ao seu lado, o cheiro forte de naftalina devia sua atenção, a mãe com a criança reclamando, a venha magra, a moça gorda, o senhor de terno e grava. ela sente vontade de espirar, mas a vontade passa. "que raiva, odeio perder espirro!"
dez anos desde a morte do pai, dez anos que vive apenas com a mãe, dez anos que seu dinheiro é contado, sua vida é regrada e nada pode ser esbanjado. dez anos que ela sonha. afinal, sonhar não paga imposto. dez anos que ela tem vontade.
ele entra, barba por fazer, mochila preta nas costas, casaco folgado, na mão um saco de amendoim japonês. os preferidos dela, os que há meses ela não come. a boca enche d'água ela deseja, ao menos, um amendoim, mas nunca teria coragem de pedir. olha fixamente para cada uma bolinha disoforme, marrom, texturizada. lembra do gosto do salgado à boca, lembra do som da casca grossa estrourando na boca. lembra... remexe no bolso, alguma moedas contadas. sente vontade de descer do ônibus e comprar um saco igual. odeia a vida que leva, odeia as limitações que vivi, odeia esse sentimento e querer e não poder, a vontade de comer e não poder. as vontades...
para sua perdição ele abre o pacote, o cheio intenso invade sua narinas, um oceano se forma na boca, o cheiro salgado a envolve. o som dos amendoins estourando na boca dele, tudo mais intenso do que deveria. ela fecha os olhos se vê num campo, céu claro sem nuvens, campo verde, em sua mão um saco de amendoin japonês, ela senta na grama macia e come despreocupadamente, um por um. o ronco do motor e ela é arrancada de seu devaneio. abri os olhos e mira ele mais uma vez, mastigando feliz, o saco cheio. ela promete a si mesma, um dia teria uma um casa, e nessa casa haveria uma banheira e um dia encheria essa banheira e tomaria banho de amendoim japonês.
ele entra, barba por fazer, mochila preta nas costas, casaco folgado, na mão um saco de amendoim japonês. os preferidos dela, os que há meses ela não come. a boca enche d'água ela deseja, ao menos, um amendoim, mas nunca teria coragem de pedir. olha fixamente para cada uma bolinha disoforme, marrom, texturizada. lembra do gosto do salgado à boca, lembra do som da casca grossa estrourando na boca. lembra... remexe no bolso, alguma moedas contadas. sente vontade de descer do ônibus e comprar um saco igual. odeia a vida que leva, odeia as limitações que vivi, odeia esse sentimento e querer e não poder, a vontade de comer e não poder. as vontades...
para sua perdição ele abre o pacote, o cheio intenso invade sua narinas, um oceano se forma na boca, o cheiro salgado a envolve. o som dos amendoins estourando na boca dele, tudo mais intenso do que deveria. ela fecha os olhos se vê num campo, céu claro sem nuvens, campo verde, em sua mão um saco de amendoin japonês, ela senta na grama macia e come despreocupadamente, um por um. o ronco do motor e ela é arrancada de seu devaneio. abri os olhos e mira ele mais uma vez, mastigando feliz, o saco cheio. ela promete a si mesma, um dia teria uma um casa, e nessa casa haveria uma banheira e um dia encheria essa banheira e tomaria banho de amendoim japonês.