o romance conta a história de bander [isso é nome de gente?] e daniel que se conheceram num acidente de carro provocado pelo próprio bader logo após o mesmo ter sido deixado por seu antigo namorado, o bruno. plano de fundo bonito para uma história de amor gay, não é? mas não se enganem foi a pior coisa que eu já li na minha vida. nada supera o nível de quão amador e pobre que esse livro pode atingir, oh eu sei, eu não sou critico literário profissional, mas sei dizer o que me agrada e porque me agrada, e sei dizer melhor ainda o que não me agrada e porque não me agrada.
descrever duas ou mais cenas de beijo e amassos entre dois homens num apartamento em higienópolis e algumas declarações de amor, não faz de qualquer um texto virar literatura gls. o livro nunca foi realmente impresso [graças a Deus] e é disponível na versão pdf ou .doc em qualquer comunidade do orkut que seja intitulada "literatura gls\gay". stop! existe realmente literatura gay? baseados nos livros que eu tenho lido sobre o tema eu infelizmente tenho que dizer que não, não há. ao menos não há aqui no brasil. aqui nem existe um mercado gls quanto mais literatura gls e não vejo grandes interessados em criá-lo – infelizmente – mas cá entre nós, quem quer investir num país em que menos da metade da população alfabetizada não tem o habito de ler? mas não vamos discutir sobre o mercado literário brasileiro, até porque a situação é tão precária que só de pensar no mercado literário – não só o não existente gls – nacional eu entro em depressão.
voltando ao livro, eu nunca tinha lido algo tão ruim na minha vida, e eu leio até bula de remédio. eu li até o fim do livro, sim eu li, eu tive que ler só pra ver até onde ia parar, por mero descarrego de consciência e também por que na metade do livro eu já tinha parte desse texto na cabeça e queria ter aval para poder criticar.
pensem num amontoado de diálogos desconexos e fora da realidade, comparações ridículas e sem fundamentos, uma personagem principal dúbia, que ao mesmo tempo em que fala um texto todo voltado ao auto-controle e segurança em um relacionamento estável, ele sai correndo chorando ao ver o namorado personal trainer tratando bem um dos alunos da academia, excessivos pedidos de desculpa, excessivos "ta bom", "obrigado" e "ok". uma chuva de clichês, uma chuva de pobreza de detalhes. para completar o circo dos horrores, daniel, na metade do livro é seqüestrado pelo antigo namorado de bader, sim, o bruno, aquele mesmo que o deixo no começo do livro com apenas um bilhete dizendo que tinha se apaixonado por outro, o mesmo que passou AIDS para o baber.
após descoberta a doença do personagem principal, que diga-se de passagem entra em depressão e recupera-se do quadro psicossomático ao ler uma frase de charlie chaplim, o livro inclina-se ao informativo e há momentos que você se vê lendo uma página inteira de documento do word sobre o quão frágil é o organismo de um portador de HIV, quantas doenças um aidetico tem a possibilidade de adquirir e tudo isso com termos científicos, mas claro, todos nós somos obrigados a saber o que é o nível de CD4 do sangue. falar de AIDS e incentivar as pessoas a usarem camisinha sempre, é, talvez, a única coisa boa que o livro faz.
resumindo "um estranho dentro de mim" é um livro pobre, um livro ruim, um livro que não vale à pena ser lido. cadê meu bendito tempo perdido? vou te contar...