quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"Sobre essa gente"

E de repente um “amigo” resolve compartilhar aquele vídeo que os meninos heterossexuais cantam o sucesso “Robocop Gay” da extinta banda Mamonas Assassinas para o Pastor Marco Feliciano num avião, como comentário pessoal estava a frase: “Esse vídeo diz tudo sobre essa gente!”.
Dentre a mistura de sentimentos que é ver tal atitude, entre a revolta e incredulidade que alguém que te conhece pessoalmente, sabe de suas capacidades e sua integridade social e humana, alguém em algum momento compartilhou com você uma conversa, um cigarro ou um copo de cerveja, dizer “sobre essa gente”.

Que gente é essa?

Essa gente, meu caro amigo são trabalhadores e pagantes de impostos tanto quanto você, essa gente está em todos os lugares, essa gente participa de sua vida (direta ou indiretamente). Essa gente são pais de família, são mães, essa gente acorda cedo, estuda, se diverte, tem sonhos e muitas vezes não podem vive-los por conta de pastores, como esse senhor Marco Feliciano, que usa da imagem pública para disseminar o ódio e através dele, amigo, causar cada dia mais e mais violência física e psicológica contra essa gente que você diz ser lamentável existir.

O que você talvez não saiba, amigo, é que os rapazes do vídeo não são gays, eles não são “essa gente”, eles são heterossexuais, eles gostam de mulher tanto quanto você gosta, mas diferente de você eles são humanos e acima de tudo compreenderam que apoiar a causa dos Direitos Civis dos homossexuais não quer dizer que eles sejam homossexuais também, mas significa que são conscientes que o Direito é para todos, incluindo nós, essa gente, que não é o padrão que você acredita ser o modelo “normal” para ser seguido. Eles, amigo, perceberam o quão errado está o mundo e tentaram de uma maneira divertida protestar contra as barbáries que esse pastor (e os seus) vem incentivando ao logo dos anos.

Se você acha lamentável o que eles fizeram, eu posso lhe passar uma lista gigantes (que não me orgulha em saber que existe) de centenas de jovens, adolescente e adultos que são todos os dias massacrados nas ruas, escolas, trabalho e pior, dentro de suas próprias casas, com violência física e psicológica. Lamentável, amigo, é ser assassinado por ser gay, lamentável é ser acertado por uma lâmpada na cara por andar de mãos dadas na rua ou ser “convidado” a se retirar de um estabelecimento por estar acompanhado de uma pessoa do mesmo sexo. 

Lamentável é sua atitude.

Você ainda diz que “Infelizmente cada um só vê o que lhe convém!”, neste ponto eu concordo muito com você, porque você está vendo o que lhe convém, você acredita que a música cantada para o tal pastor é um ataque, mas ataques maiores existem e eles destroem a integridade de toda uma comunidade. Mas não pense que gays são vítimas, porque nós não somos e a maior prova disso é ver (e viver) que mesmo diante de tanta coisa errada, tanta coisa ruim, continuamos a colocar nossa cara aí fora no mundo, enchemos o peito de ar e erguemos nossas vozes para gritar ao mundo inteiro o quão orgulhosos somos por seremos gays, viados, bichas, boiolas, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais, transgêneros e tudo quanto é coisa que tiver no meio dessa deliciosa festa colorida. Sabe porquê? Por que é muito bom quanto a Coca-Cola é Fanta.

E a você eu, Jarbas Ribeiro Bahia, 28 anos, Designer de Moda, nordestino, homossexual assumido (e orgulhoso disso) peço apenas uma única coisa: me deleta da sua vida (real e virtual), você não tem o privilégio que eu lhe chame de amigo. Obrigado.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Buraka Som Sistema


Eu não tenho conhecimento musical algum, nem sei tocar nenhum instrumento, eu não saberia dizer nada sobre up-tempo, down-tempo o qualquer uma variante técnica da música, porém, sou daquele tipo de pessoa que senta no PC e a primeira coisa que faço é abrir o iTunes para ouvir música… de limpar a casa a editar uma imagem no Photoshop, eu faço praticamente tudo ao som de música.

Sem síndrome do underground de achar que banda boa é banda outsider, mas eu não diria que eu sou eclético, porque eu tenho muita coisa selecionada, porém sempre fui muito aberto a descobrir sons novos ao redor do mundo.


Dentre muitos sons que eu escuto durante o meu dia está o Buraka Som Sistema, uma banda de Portugal, com os integrantes Blaya, DJ Riot, Lil' John Roberts, Kalaf Ângelo, Andro Carvalho, Li'l John. E por incrível que pareça, eu cheguei ao Buraka Som Sistema através de ninguém mais, ninguém menos do que nossa funkeira Deize Tigrona, que tem feat. na faixa “Aqui Pra Vocês” do álbum “Black Diamond” [2008], com direito, inclusive, de apresentação ao vivo no Rock in Rio Lisboa.


Com três álbuns lançados o Buraka Som Sistema propõe um som africano-eletrônico, um ritmo empolgante, envolvente e de fazer qualquer levantar e mexer o corpo. Há quem diga que a banda é uma das fundadoras da batida do Kuduro Progressivo, se são realmente, eu não posso afirmar, mas são, hoje, para mim os melhores representantes dessa música. Acredito que o Buraka Som Sistema, representa a nova geração de talentos e pluralidade do mundo que vivemos, traz uma música animada, única, cultural e com raízes na Mãe de todas as coisas, a África.

E é essa mistura meio louca que me agrada e torna a música deles extraordinária! Vale à pena parar para escutar com volume alto, por favor… e se quiser dançar, dance estupidamente!


Eu poderia destacar muitas boas músicas aqui, mas queria deixar registrado meu amor pelas faixas:

- Wawaba | From Buraka to the World [2006]

 - Sound of Kuduro (feat. DJ Znobia, M.I.A., Saborosa and Puto Prata) | Black Diamond [2008]
 

 - Aqui para Vocês (feat. Deize Tigrona) | Black Diamond [2008]

 - Hangover (BaBaBa) | Komba [2011]

 - Stoopid | Buraka [2014]

 - Vuvuzela (Carnaval) | Buraka [2014]
Essa música “Vuvuzela”, por exemplo, a comprovação do talento da banda de conseguir transformar um som tão irritante como o da vuvuzela numa música tão boa.


BONUS! Buraka Som Sistem + Deize Tigrona | Palco Sunset Rock in Rio Lisboa, 2008




+ sobre o Buraka Som Sistema:

Lissy Elle, quando a sofisticação é simples

(texto publicado originalmente 09 de julho de 2014 para o blog Chop and Change)


Lissey Elle poderia ser considerada como apenas mais uma jovem canadense que vive numa região ruralizada próxima a uma floresta de árvores grandes e um velho campo de milho. Poderia... se não fosse seu gosto pela fotografia, vocação artística que despertou na menina aos 13 anos de idade.


A própria Elle afirma que foi a fotografia quem a ajudou com os problemas na adolescência. Foi na fotografia, diz a menina, que encontrou “a razão para se levantar de manhã e lavar o cabelo. Para reorganizar sua mobília do quarto. Para poupar o seu dinheiro para uma lente Nikkor 50 mm, 1.8 lens . Para explorar uma casa abandonada. Para amarrar duas dúzias de maçãs às árvores. Para cortar mil estrelas de papel. Para praticar ballet. Para aprender a levitar. Para ter uma tea party aos 18 anos. Para forjar, através da arte, um lugar para si no mundo e luta com unhas e dentes para ficar lá”.


Num mundo onde as coisas duram pouco e fast é a velocidade constante, onde tudo se complica por si só e o que é simples, o poético, o belo muitas das vezes passa despercebido mesmo diante dos olhos. A fotografia de Lissy vem para transmitir um frescor e reafirmar que a “simplicidade [é sim] é o último grau da sofisticação” como disse Leonardo da Vinci.


E é assim, entre sua floresta e seu velho milharal, imaginando coisas imaginais e tentando torná-las reais que Lissy vai criando seu próprio mundo cheio de fantasias e sonhos, hora soturno, como aquele lugar mais solitário da alma que todos temos e que ainda carece de luz.  Tentando fazer deste mundo um lugar ‘menos ruim’ para se viver, onde todos nós estamos tecendo espaços para nos encaixar e lá permanecer.


Conheça mais do trabalho da artista nos link:
Site | Flickr | Facebook | Tumblr

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O dia que eu encontrei o amor de minha vida...

Encontrei o homem de minha vida!
Foi de secar a boca e embasar os olhos, de sentir aquela agonia no estômago.
Amor à primeira vista, como eu nunca tinha visto antes.
Ele estava à minha frente sorrindo em quanto eu planejava nosso casamento, a lua de mel pela America Latina, nossa volta ao Brasil... ele concordou que nós vamos morar no Rio de Janeiro, no Leblon, para seremos como personagens de uma novela de Manoel Carlos.

Seremos vegetarianos com uma vida saudável. Vamos ter uma vida social ativa entre teatros, lançamentos de livros, reunião e festas com nossos amigos influentes. E vamos adotar duas crianças, que vão frequentar inglês e natação.

Nossa vida será como um comercial de margarina gay.
Tudo lindo, tudo perfeito... até que ele se levantou, passou por mim, pagou a conta e foi embora do restaurante.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O que te incomoda pode te salvar [?]

Existe uma expressão em inglês chamada “push forward”, que em livre tradução seria algo como “impulsionar” ou “ir para frente”. Essa expressão explica o sentimento que é quando eu encontro alguém fazendo algo que me incentiva a pensar de maneira diferente, ou me move a ter uma visão sobre as mesmas coisas, mas de uma maneira não pensada ou não executada (ainda).


Foi exatamente esse sentimento que me despertou ao ver as fotos de Claire Milbrath, uma fotografa freelance canadense que em seu ensaio (de moda) titulado "Groin Gazing" (Olhando Virilhas), ela usa os volumes do sexo masculino para expor o que nós, de maneira camuflada estamos, num momento ou outro, observando. Talvez, nem todas vão admitir, mas com certeza a gente já parou uns segundos para observar a “mala” do rapaz. Observar aqui não se trata de safadeza oculta, ou você nem precisa ter um interesse sexual pelo rapaz avantajado (ou não), é simplesmente uma questão de admitir que a região causa curiosidade e recai sobre nós as perguntas: Se a mulher é tão objetivada, corrermos o risco também de estar transformando o corpo masculino num objeto também? Ou caminhamos para um futuro onde os corpos (masculino e feminino) estarão no mesmo nível de exposição na mídia?


Essa não é uma discussão sobre tamanho de pênis (ninguém nem tem mais paciência para discutir isso), mas uma boa oportunidade para repensarmos nossos valores e não permitir que sejamos pessoas que vivemos sob a máxima de “dois pesos e uma medida”, além da discussão sobre a objetivação do corpo surge a questão sobre o desejo sexual feminino, já que Milbrath brinca com os estereótipos masculinos, “o artista”, “o vizinho”, “o executivo” são alguns dos tipos que aparecem nas fotos que mesmo estando dentro do padrão de fetiche de muitas mulheres, mas para muitas meninas essas imagens seriam consideradas como imorais ou ilícitas mas e a loira seminua na propaganda de cerveja também não seria uma imagem pervertida?

 
São anos de lutas para a igualdade feminina e há muito ainda para ser trilhado, talvez, não seja um ensaio fotográfico com volumes de pênis e clichês dos tipos masculinos que vai mudar a realidade de milhões de mulheres abusadas ao redor do mundo diariamente, mas essas imagens não passarão desapercebidas já que elas não são exatamente eróticas, muito menos pornográficas e nem mesmo o torso nu de um rapaz numa propaganda de cuecas (a qual estamos tão habituados), elas estão no meio de tudo isso, são aquele ponto que incomoda, por isso, ouso dizer, são superiores.

Claire joga em nossas mãos a decisão de pensar: se a imagem de um pênis ereto numa calça jeans nos incomoda tanto, é porque o caminho é mais longo que nós imaginávamos e o “push forward” que precisamos é maior. Pense, garotas... 

 + sobre Claire Milbrath