quinta-feira, 29 de abril de 2010

história 190: fêmea miserável!

era mais um domingo ensolarada lá fora. mais um domingo que eu tinha que trabalhar.
ela entrou acompanhada da mãe, não estava mal vestida, mas não era a melhor das combinações que vi na minha vida. enfim, ela veio direto em meu balcão.

- boa tarde – cumprimentei.
- oi, eu quero o celular mais barato que você tem aqui – ela disse.
- tem preferência por operadora? – perguntei.
- quero desbloqueado – ela respondeu, convicta.
- o mais barato, desbloqueado, que nós temos é o nokia 1661. ele sai por R$109,00 – eu disse mostrando o produto pra ela.

ela observou alguns segundos, passou o olho nas outras vitrines enquanto eu falava as funções do aparelho.

- esse aqui na vivo, não é o mesmo? e ta mais barato! – ela perguntou. eu comecei a imaginar onde aquilo iria parar.
- sim, mas esse é exclusividade da vivo. – respondi, pacientemente.
- mas a nova lei foi sancionada, - ela começou – todo aparelho tem que vim desbloqueado.

lamentei minha existência nesse exato momento. esse tipo de conversa não termina bem. previ.

- sim, você está certa – eu comecei a responder – mas esse aparelho faz parte de um lote anterior à lei, ele possui apenas a recepção da frenquência da vivo.
- mas isso é um absurdo! eu quero esse da vivo desbloqueado.
- nós não temos, senhora. – respondi com minha melhor cara de origami [totalmente sem expressão]
- como assim? é lei...
- eu sei, mas esse aparelho não suporta outras freqüências GSM. eu não posso fazer nada.
- isso é uma palhaça! pra que existe lei? olha, é o mesmo aparelho na vitrine ao lado, porque esse desbloqueia e o outro não?! - ela começava a falar alto, eu a me irritar.
- é a mesma capa, moça. o maquinário é diferente.
- isso não existe!
- o procom ta ai pra isso... – já comecei a demonstrar sinais de impaciência.

a moça começou a falar meio alto e o monitor do departamento encostou pra ver o que estava acontecendo. ele foi se queixar com ele. o mesmo apenas repetiu minhas palavras. ela continuou a gritar. eu não agüentei e tomei da fúria de nazaré tedesco e disse:

- eu fico admirado como uma mulher como você, tem coragem de sair de casa num domingo lindo e ensolarado como esse, pra vim num shopping brigar por causa de 40 reais. nem se fosse um iphone, um blackberry... é muita falta do que fazer. dá licença, não sou obrigado!

sai de trás do balcão e fui pra area de vendas. ela, a mãe dela e o monitor do departamento ficaram me olhando sem entender a explosão fúria. ah, fale sério, né?! eu louco pra estar na rua tomando uma cerveja sob o sol curitibano e a filha da puta reclamando de uma coisa que nós já tínhamos explicado que não tinha o que fazer. putz, ta achando ruim? procura ouvidoria, vai no procom. é simples.
odeio essa gente que reclama sem saber o que reclamar. todo mundo tem direito, fato! mas se for cobrar os seus, sabia pelo menos quais são, né?!

no fim, a fêmea miserável levou o tal celular desbloqueado e mais caro. quer a coisas? pague por isso e bem vinda ao capitalismo. quando foi passar na caixa e pagar no cartão de crédito, porque nem débito a filha da puta tinha, eu vi que tinha a carteira da OAB de 2009. advogada recém formada. tudo auto explicou-se. tem coisa pior do que gente recém formada tentando mostrar que sabe de tudo da area? não, né?! cada coisa, vou te contar...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

vou te contar... um conto #2.

[ essa história é de mentirinha, tá?! ]

não. eu não sou saudosista. esse é o primeiro fato que você deve saber sobre mim, se é que você quer saber algo sobre mim. eu tenho memória. me recordo de meu passado, mas odeio lembrar das coisas com saudade, com dor, sabe?! e eu tenho que admitir que eu ando bastante saudosista nos últimos dias – mais do que eu já fui na minha vida inteira. e pra piorar, porque desgraça pouca é besteira, eu tenho pensando muito no amor, na falta dele, como vivê-lo, adquiri-lo. ando me questionando se já amei, se já fui amado. que merda! será que eu estou doente ou louco, deus? devo procurar um médico? enfim, sem dramas, não tenho paciência.

na verdade, eu queria contar uma história. é sobre o único homem que amei – até agora – na minha vida. estou solteiro há muito tempo, talvez, essa carência esteja me causando tamanha nostalgia.

então, de volta a história. tudo começou, e aqui não começa com "era uma vez", mas com o convite que uma amiga e eu recebemos para ir numa festa em sitio numa cidade vizinha à minha. um dos amigos de minha amiga ficou de nos pegar num bar no centro da cidade, era um desses bares da moda que reunia boa parte do povo gls. o amigo dela chegou num carro já cheio de amigos dele. cumprimentos e apresentações eis a parte difícil: colocar sete pessoas dentro de carro popular. no fim da organização, minha amiga veio em meu colo. eles eram animados e divertidos, falavam e riam alto. eu fui boa parte do trajeto calado – sempre fui de observar primeiro. na metade do caminho o carro quebrou, ou acabou a gasolina, não me lembro. só sei que tive, junto com os outros meninos, que empurrar o carro ladeira acima e esperar cerca de meia hora até o carro voltar e nos levar para a festa. na nova organização fui sentado no colo do amigo de minha amiga.

"na hora que você sentou em meu colo, eu soube que você era gay", ele e disse tempos depois.

na festa, música boa, dancei, bebi e me diverti. e me cansei também, por isso resolvi sentar numa calçada elevada que tinha meio longe do som. o menino que eu fui sentado no colo veio acompanhado de outros, sentaram ao meu redor e começaram a conversar comigo. um deles saiu dizendo que ia comprar cerveja, os outros dois começaram se beijar ao nosso lado. éramos só nós dois conversando. ele segurou meu braço e me levou para um pouco mais longe das pessoas.

- você fica com homens? – ele perguntou.
- eu só fico com homens – respondi.

e não precisamos dizer mais nada. nos beijamos por um bom tempo. e o beijo foi compatível desde a primeira vez que os lábios se tocaram ainda tímidos. um certo tempo depois os amigos dele se aproximaram e começaram a brincar e a nos provocar. nós resolvemos sair de perto deles e fomos para embaixo de um pé de limão. uma chuva fraca começou a cair. nem o ambiente pouco convencional e confortável, nem mesmo o frio. nada parecia importar pra nós. o resto do mundo era pequeno demais, pouco demais, irrisório demais. nós nos completávamos, mesmo tendo nos conhecido a pouco mais de 3 horas. éramos só nós dois.

eu voltei pra minha cidade. nos adicionam e mantivemos contato através de redes sociais e foi pelo virtual que eu soube que ele estava namorando. e devo admitir que não foi a melhor descoberta a minha vida, porque não foi. nos encontramos outras vezes, mesmo sabendo que ele tinha namorado. e numa dessas vezes, saímos do centro caminhando sem rumo, só conversando. quando percebemos estávamos numa estrada de terra batida, umas fazendas e umas construções inacabadas. entramos numa dessas construções e ficamos lá dentro. a chuva se fez presente outra vez e, de novo, não foi um grande problema. eu sei, eu não estava fazendo uma coisa legal. afinal de contas o menino tinha namorado, eu não me sentia confortável com a situação, mas eu não importava. estar com ele era suficiente.

não. eu não nasci pra ser o outro. não nasci para estar em segundo lugar. esse é o segundo fato que você tem que saber sobre mim. por defesa, imaturidade ou simplesmente por covardia, eu o afastei com minha rudez. disse o que nunca deveria ter dito, não me permiti viver o que deveria ter vivido. e mesmo depois dele ter terminado com o namorado e ter vindo falar pra ficarmos juntos eu não quis e o afastei mais ainda. "eu não acredito em amor a distancia", era minha única resposta. esse foi o muro que construí ao meu redor, minha defesa, minha redoma intransponível.

inevitavelmente, ele começou outro namoro. o que fazer? nada! afinal de contas eu o tinha expulsado de minha vida. mesmo tomado de ciúmes mantive contato com ele e nunca forcei uma nova aproximação entre nós. éramos amigos. nos víamos eventualmente e durante todo o tempo que ele namorou com esse menino nunca ficamos, numa trocamos um selinho.

- eu gosto de meu namorado, - ele me disse num de nossos encontros – não é meu plano, mas quando eu terminar com ele, você será a primeira pessoa que eu vou procurar, porque eu gosto muito de você.

já tinham se passado quase três anos desde o dia que nos conhecemos. ele terminou com o namorado e como tinha dito, ele veio me procurar. quase três anos depois nós fizemos sexo pela primeira vez. não afirmo por ele, mas por mim. transar com ele foi muito mais que sexo, foi o mais próximo que cheguei do amor.

não acredito em destino, odeio a idéia de ter alguém – ou alguma coisa – me controlando. mas não consigo nomear esse força maior que achamos que existe. então, vai destino mesmo. esse filho da puta nos afastou mais ainda. estamos muito distantes fisicamente. não parei minha vida, nunca faria isso. freqüento outros corpos, beijo outras bocas, mas ele sempre está em meu pensamento. seja em fragmentos de lembranças durante o dia, seja numa foto que resolvo ver quando ligo o notebook e a vou direto para as pastas mais antigas. agora foi ele quem me expulsou de sua vida, mas os detalhes sobre isso ainda não me sinto confortável em falar, mas não importa. eu o amo pelo simples fato de saber que em algum lugar ele respira.



qualquer semelhança com a realidade, é merece coincidência

sábado, 17 de abril de 2010

os gays que me envergonham [2]

o fim da aula de história da moda foi anunciada e eu saí logo após uma leva de colegas, mas não antes de minhas amigas. no corredor, fiquei esperando-as sair da sala enquanto olhava o ensaio fotográfico de uma das turmas veteranas que fizeram um projeto inspirado nos sete cavaleiros do apocalipse.

- você já escolheu o seu? eu já! – ele me abordou. eu nada entendi.
- a roupa? – perguntei, inocente.
- não! tô falando dos rapazes, vai dizer que não percebeu... aqui, ô! – ele explicou me guiando até uma das fotos que tinha, além das modelos, dois rapazes sem camisa, bem bonitos, um loiro e um moreno. ele continuou – eu escolhi o loiro, e você?

parei uns segundos para observar melhor os meninos da foto. eu disse: - eu queria o loiro também. a gente ia ter que disputar no tapa.
- que nada. a gente divide. – ele disse, tranquilamente.
- dividir? eu, não. sou monogâmico e pior sou egoísta, principalmente com seres humanos. ou é meu ou não é.
- ah, então você não é gay.
- como assim? – perguntei perplexo.
- você sabe, né?! nesse mundo gay não existe fidelidade.
- eu sou fiel. solteiro eu sou do mundo, não nego. mas nasci pra ser monogâmico.
- sério? – ele pareceu chocado com a minha afirmação
- sim.
- então você não vive o mundo gay. sabe como é, no mundo gay você namora um cara, mas sabe que divide ele com alguém do outro lado da cidade. essa parceria é normal.
- normal? deus que me livre. eu não acho isso normal, não. – agora eu quem estava chocado.
- ah, é o mundo gay.
- o seu mundo gay, não o meu mundo gay. e sinceramente eu me assusto em ouvir alguém falando traição com tanto naturalidade.

ele soltou um sorriso amarelo. ficamos em silêncio. dois paralelos de um mesmo mundo. duas pessoas totalmente diferente, que se não fosse pelo falto de serem homens quem gostam de homens, não teriam nada mais em comum.
me questionei o dia inteiro: o que viria a ser esse tal de “mundo gay” e em qual deles eu estava inserido? são tantas faces para a mesma moeda. são tantos clichês a serem quebrados, imagens pré-concebidas de uma mesma coisa. é tudo tão vasto, que não haveria resposta pra minha duvida. é tanto pra dizer que eu acabo não querendo dizer nada.
eu tenho meus costumes, minhas filosofias, meus moralismos, meus preconceitos e por isso não sei se quero fazer parte - ou me titular com participante de um grupo de pessoas que acham normal traições e coisas do tipo e o pior, aceitam isso como fato corriqueiro da vida. esse não sou eu. não faz parte de mim. e quando alguém vem e diz: "é o mundo gay" o que fazer? não, não é o mundo. não tem que ser. não é de gay trair, ser mal caracter – desculpe-me os que traem, mas eu acha total falta de caracter o fazer – e por isso me assusta ver alguém falam sobre o assunto com se dissesse: "comi pão com ovo". é por isso que eu não temo em afirmar, que são esses gays quem destroem nossa própria imagem.

domingo, 4 de abril de 2010

vou te contar... um conto

era sábado e trabalhar não o agradava de forma alguma. o primeiro convite para sair veio das amigas do trabalho, que o chamaram para ir na casa de uma delas, beber bastante, possivelmente fumar maconha, falar besteiras e dormir. mas ele recusou... queria voltar pra casa, estava cansado, não sabia exatamente porque, mas estava cansado.

o expediente acabou e ele foi embora, caminhou sem pressa. observou os argentinos malabaristas do sinal, acendeu um cigarro e caminhou despreocupado na noite movimentada da cidade. pensou naquele bar que sempre ia, mandou mensagem pra uma amiga, mas não obteve resposta até entrar no ônibus coletivo e chegar em sua casa. encontrou a amiga on-line no MSN, sentiu crescente vontade de sair. não era desse tipo que acreditava em acasos e coisas do destino, mas sentia que deveria sair. mesmo com a recusa das amigas que alegaram uma cansaço, a outra cólicas e a outra falta de dinheiro, ele queria sair. olhou pela janela, e numa conspiração universal começou a chover. "eu tenho guarda chuvas", pensou.

entrou no banheiro, tomou banho rápido, vestiu-se, perfumou-se e partiu para o bar. fila grande, mesmo debaixo de chuva. encontrou o amigo barman, que o tirou da fila. "obrigado, jesus! eu tenho contatos", pensou. no bar, com sua heineken na mão encontrou amigos, pseudo amigos e conhecidos, travou um dialogo com uma conhecida:

- oi, linda – cumprimentou, mesmo não achando ela nada linda.
- olá, tesão – cumprimentou ela em resposta, sabia ele que ela não o achava nada tesão.
- como ta?!
- tudo bem e você?
- bem também... com tá hoje aqui?
- ótimo! tô aqui desde cedo... já peguei três.
- nossa, nem quero pegar ninguém hoje. só vim pra dançar...
- duvido...

despediu-se porque sabia que a conversar não evoluiria dali. foi pra pista... dançou uma música, duas, três, sentiu o corpo suar. sentiu-se bem! olhou para o lado, varias pessoas, vários corpos que se moviam na ritmo da música a luz que embasava a visão... ele surgiu do nada, na verdade, passou pelo lado, os braços se tocaram, olhos nos olhos e não houve como não buscarem um a boca do outro. e o beijo deu certo instantaneamente, como nunca tinha acontecido com ele antes. beijaram-se por um bom tempo, quanto? ninguém realmente observou pra responder depois. saíram da pista, estava inviável e lotado demais para permanecer ali, foram para a parte externa do bar, conversaram como se já se conhecessem a décadas e foram vários gostos em comum, várias piadas entendidas mutuamente.
voltaram para dentro do bar, nunca daqueles cantos mais escuros se pagaram forte, o tesão não falava, gritava.

- vamos pra outro lugar?
- onde?
- algum hotel, não sei...
- não tem como resistir, vamos...

pagaram sua comandas e se foram... táxi, ruas movimentas, hotel num desses bairros boêmios centrais. ele descobriu com aquele [quase] desconhecido partes do corpo que julgava serem insensíveis, descobriu que o beijo de alguém pode falar pelas pessoas, sentiu-se protegido, foi honesto da forma mais pura e viu alguém ser honesto sem ser rude. o rapaz o descreveu, o despiu com nenhum outro fez outrora, elogiou na medida, cativou na medida, foi bom o suficiente. reacendeu em si a chama que estava quase apagada, a chama da esperança de crer que ainda existem pessoas que valem a pena no mundo. sabia, por mais que não quisesse admitir pra si mesmo, que aquele seria apenas um encontro casual de uma noite só. em suor e gozo viu o dia nasceu, recostou em peito quente, mas o mundo não para, a vida seguei e eles tinham coisas a fazer. abandonaram a cama e caminharam juntos na rua, conversaram enquanto feirantes armavam suas barracas numa dessas feiras de bairro. sentaram numa praça e conversaram, conversaram coisas que recém conhecidos, usualmente, não conversariam. ele admirou e amou aquele menino instantaneamente, mesmo sabendo que dificilmente ele seria seu. questionou-se porque a vida estava sendo tão cruel com ele, colocar alguém tão bom assim na sua frente pra tira-lo horas depois.

- seus olhos são verdes - ele disse, observando íris iluminada pelo sol da manhã
- às vezes...
- ah, ele muda de cor é?!
- sim.
- e quando eles estão verdes, o que significa?
- significa que estou gostando da minha companhia...

ele riu envergonhado. e quando ergueu seus olhos para fitar o rapaz outra vez recebeu um beijo lento e caloroso.

- eu tenho que ir...
- já?
- é...

ficaram de pé.

- vamos nos ver de novo...
- possivelmente, sim. mas eu demoro pra vim aqui.
- telefone, celular, orkut, twitter, facebook ou nada disso, pra não quebrar a magia?
- eu tenho você num lugar mais importante... em mim. não te esquecerei. a gente se encontrará...

houve outro beijo. depois cada um seguiu em uma direção diferente...