sábado, 26 de setembro de 2009

história 185: quase, menino

eu fui avisar a minha companheira de setor que eu estava indo fazer meu intervalo, o vi sentado no setor de calçado, olhou pra mim enquanto provava um daquele sapatênis horríveis. "que lindo e bem vestido!", pensei. demorei mais do que realmente precisava ali, só pra olhar mais um pouco pra ele. sai. voltei uma hora depois, e para minha surpresa ele ainda estava na loja.

decidi recolocar todas as roupas que estavam no provador na area de vendas, ele olhava uma arara de camisetas, passou por mim, cumprimentou-me. meu coração acelerou.
"será?", pensei. e para que eu não tivesse duvidas, ele veio mais perto e me perguntou: "tem muito tempo que você trabalha aqui?", tremi, vacilei a voz antes de conseguir responder. ele tava falando comigo mesmo? "tem uns cinco meses", respondi. dai, começamos a conversar, ele me contou com o que trabalhava, de onde era e o que fazia em curitiba.

- mas viver assim viajando deve ser ruim para o namoro, não?! - perguntei.
- é, mas eu não tô namorando. e você tem namorada?
- não - respondi entre risos disfarçados.
- é, o bom é que você conhece varias pessoas e tal, mas namoro a gente encontra assim, olhando - nessa hora ele olhou pra mim, continuou: - não é?!

puta que paria, ele tava na minha, ele tava dando em cima de mim descaradamente - ao menos era isso que eu imaginava que estava acontecendo - , e eu estava gostando disso e muito! me senti desejado - um sentimento novo -, e sentir-me assim foi bom, muito bom. eu tinha certeza que era pra ser meu, eis que ele pergunta:

- aquela menina de azul, qual o nome dela?
- fulana de tal?
- sim, ela tem namorado?
- não, acho que não...
- cara, eu tô de olho nela... - estouraram meu balão e eu cai de muito alto, me jogaram um balde de água frio e eu estava nu no meio de uma geleira no polo norte, no inverno.
- se você quiser, posso pegar o telefone dela. - essa foi uma frase que saio automática, não forçada, juro. mas ele era tão simpático que me veio na cabeça ajudá-lo, afinal de contas, mesmo sendo bonito ele não tem culpa de ser hetero, não é?!

acabou que eu consegui o tal telefone e ele foi embora feliz, mas não antes me contar que tinha uma banda, para meu desespero maior ainda. pense, magro, alto, bem vestido, simpatico, trabalhar e membro de banda. realmente, perfeito demais. eu, talvez, não mereça tanto. fiquei com inveja da menina de azul, não vou mentir, mas passou, e curitiba tem 3 milhões de habitantes, deve ter um ai pra mim - ou não. vou te contar...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

história 184: normas tecnicas da ABNT na noite curitibana

aquela definitivamente não ia mais ser uma noite normal no james, se é que que o james tem alguma noite normal. pra começar, ia ter show do copacabana club, depois meu amigo do acre - eu tenho que pontuar isso - iria estar lá, além de todas as figurinhas carimbadas da noite e meus amigos. uma fila monstruosa de grande, mas eu não vou contar vantagem, até porque eu não posso, porque não dependeu de mim e sim de terceiros [bons amigos. obrigado, Deus], mas eu consegui entrar muito antes do que eu imaginei que iria entrar e quando eu me deparei com a quantidade de gente naquele lugar minúsculo em plena segunda feira tive certeza que seria uma longa noite.

tive que me fingir de simpático pra uns, ser realmente simpático com outros, fingir que não vi alguns e expor minha figura pra outros. copacabana club subiu no palco e foi quase impossível vê-los, não que eu não tenho os visto antes, e pra falar a verdade, já foi em três shows deles. o show acabou e a pista ficou mais tranquila, foi lá que alguém conheceu o capitão america e eu, o fiel escudeiro do capitão.

ele era mais alto do que eu, ficou me olhando de longe, dançou próximo, olhei, ele olhou de volta, sorri e me fiz de tímido - não que eu não seja, claro! - e ele se aproximou, parou à minha frente e disse:

- oi, tudo bem?
- olá, tudo bem, sim. e você?
- tudo bom.

[ silêncio ]

- então, eu sou fulando de tal, e as pessoas aqui no james me conhecem como tal apelido, qual o seu nome?
- jarbas
- eu achei você muito interessante, jarbas e quero saber se você é gay ou hetero.

[pausa]
juro que nunca achei na minha vida iria ouvir alguém me perguntar isso. eu tenho total certeza que eu não sou o tipo de cara que você olha na rua e pensa:
"nossa, que hetero", mas nada que o álcool não cure.
[play]

- gay - eu respondi.
- que ótimo! e por te achar interessante eu tenho duas formas de aproximação, uma lenta, que consiste em eu voltar pra pista de dança, ficar olhando pra você, esperar que você me veja, se interesse por mim, dai a gente se beija, ou a rápida, que seria eu te beijar agora.

tão grande a singularidade do momento, que eu me resumi a ficar alguns segundos em silêncio até pensar em algo pra fazer. e num lapso de racionalidade emocional - se é que isso existe - eu dei um selinho nele como resposta. acreditem vocês ou não, ele ainda teve coragem de olhar pra mim e perguntar:

- isso significa sim?

mas eu não disse mais nada e beijei-o. \bisca
um beijo bom, admito. e depois de alguns minutos juntos e ele parou, olhou pra mim e disse:

- jarbas, eu vou no banheiro e volto pra dançar um pouco na pista com meus amigos, se tiver sorte te encontro de novo e nos beijamos outra vez, tá?
- tá.

eu não o encontrei outra vez, na verdade eu vi, mas não me aproximei. metodologias me assustam, devo admitir. e como disse meu amigo, aquele do acre, foi uma cantada nas normas técnicas da ABNT. pratica e direta. talvez o mundo precise mais disso - ou não. isso é prova que você sempre pode se surpreender com alguém. o beijo dele era bom, isso foi agradavél e cliché. vou te contar...